O forte temporal que atinge o Extremo Sul da Bahia desde o fim de novembro resultou em um cenário de ruas alagadas, árvores caídas e pessoas desabrigadas. A tragédia que instalou um estado de calamidade pública no interior do estado também tem entre seus fatores de risco o impacto na saúde da população que reside nesta região. 

Segundo Lucélia Magalhães, epidemiologista e coordenadora do curso de Medicina da Unesulbahia, em Eunápolis, as águas que inundam as cidades não são tratadas e nem proporcionam nenhum tipo de qualidade para consumo, por possuírem resíduos de agrotóxicos e esgotamento sanitário. Este fator pode desencadear diversas reações na pele, além de causar gastroenterites bacterianas – inflamação do trato digestivo – ao entrar em contato com boca, olhos e nariz, e às vezes na região anal. 

“Um dos fatores de preocupação também nesse caso das enchentes é a leptospira, microorganismos em forma de cobra minúscula que perfuram a pele e podem, independente de contato com mucosa, produzir uma doença bastante grave que é a leptospirose”, destacou a especialista.

A epidemiologista chama a atenção, ainda,  para os efeitos de quando essas águas entram nas casas e danificam a refrigeração de geladeiras e freezers, onde os alimentos precisam ficar em temperatura baixa para condições de boa saúde. “Como às vezes os motores desses equipamentos quebram por conta do alagamento, essas pessoas com baixa condição socioeconômica às vezes ficam dias sem conseguir consertar os refrigeradores, então os alimentos se contaminam com muita facilidade”, explicou. Essa contaminação alimentar citada pela médica pode causar inflamação gastrointestinal, levando a sintomas como vômitos, diarreia e náuseas.

Em alguns casos, quando não há desabamento e existe a possibilidade de permanecer nas casas localizadas em regiões que foram atingidas pelas fortes chuvas, os fungos são um dos inimigos dessa população. 

“Quando a parede fica encharcada e desenvolve fungos, que ficam nas paredes, problemas respiratórios podem ser desenvolvidos. Crianças e idosos podem ter asma, processos alérgicos graves tendem a ser progredidos, além da doença chamada pé de atleta, que são lesões dos dedos dos pés, que são causadas no contato com a umidade do solo”, exemplifica. 

Em meio à pandemia do novo coronavírus e uma epidemia de Influenza no estado, uma outra questão também exige atenção de quem mora nas regiões atingidas. As doenças respiratórias são favorecidas por esse excesso de umidade, como o da Covid-19, ou cepas da gripe como H1N1, H3N1 e H3N2. E essa situação de insalubridade pode sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde.

Como recomendação, Lucélia Magalhães indica que a população, em meio às tempestades, procure lugares altos, tente não entrar nas águas na medida do possível, ou que use sacos de plástico até as coxas, nas mão e nas pernas. Além disso, a epidemiologista recomenda evitar bueiros, porque eles possuem uma força de sucção muito forte, e caminhar arrastando os pés ao invés de levantar, uma forma de verificar se existe algum declive no chão. 

Em relação ao acompanhamento dos órgãos de saúde, a médica ressalta a necessidade da vigilância dos moradores mais vulneráveis como os idosos, que tendem a pegar mais doenças respiratórias gastrointestinais que os jovens. “Os agentes comunitários e a equipe de saúde da família devem sem dúvida vigiar essas casas assim que a água baixar e auxiliar na migração dessas pessoas para uma área mais segura”, concluiu.

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