Teixeira de Freitas, a oitava maior cidade da Bahia e um polo econômico do Extremo Sul baiano, é um paradoxo vivo. Com uma população estimada em 153.332 habitantes em 2024 e um crescimento demográfico expressivo — 87% nos últimos 25 anos —, a cidade se destaca como um centro de comércio, agronegócio e educação, atraindo migrantes de estados vizinhos como Espírito Santo e Minas Gerais. Contudo, por trás do progresso econômico, um abismo social se aprofunda, marcado por desigualdades, violência, pobreza e desafios estruturais que comprometem a qualidade de vida de muitos teixeirenses.
O Cenário Socioeconômico
Localizada estrategicamente às margens da BR-101, Teixeira de Freitas consolidou-se como a “capital do Extremo Sul” devido à sua posição geográfica e ao potencial para negócios. O município é um dos maiores produtores de mamão do Brasil e abriga indústrias, como as de extração de celulose, além de um comércio pujante. Universidades públicas e privadas, como a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e o Instituto Federal Baiano, atraem estudantes de toda a região, reforçando o papel da cidade como polo educacional.
No entanto, o crescimento econômico não se traduziu em distribuição equitativa de renda. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Teixeira de Freitas é de 0,685 (2010), considerado médio, mas abaixo do ideal para uma cidade de sua relevância. A pobreza é uma realidade visível, com muitas famílias enfrentando dificuldades para acessar serviços básicos. A escassez de água, a falta de atendimento médico adequado e a insuficiência de empregos formais são problemas recorrentes, como apontado dados.
A Sombra da Violência
Um dos indicadores mais alarmantes do abismo social em Teixeira de Freitas é a violência. Em 2022, a cidade registrou uma taxa de 66,8 homicídios por 100 mil habitantes, colocando-a como a terceira cidade mais violenta da Bahia e entre as 20 mais violentas do Brasil. Mais de 90% desses crimes estão associados ao tráfico de drogas, que se alimenta da vulnerabilidade social e da falta de oportunidades para jovens. Casos de desaparecimentos, como o de Tarcila Rodrigues de Oliveira e João Benedito Venceslau em 2022, refletem a insegurança e a angústia de famílias que cobram respostas das autoridades.
A violência também impacta o uso de espaços públicos. Estudos apontam que o medo restringe a ocupação de praças e áreas de lazer, limitando a convivência comunitária e o exercício pleno da cidadania. Para muitos moradores, a sensação de insegurança é agravada pela precariedade de infraestrutura em bairros periféricos, onde a falta de iluminação e saneamento básico intensifica a vulnerabilidade.
Desafios Sociais e Estruturais
A desigualdade em Teixeira de Freitas é agravada pela histórica concentração de recursos e oportunidades. Apesar de contar com quatro Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) para atender populações em vulnerabilidade, os serviços sociais não conseguem suprir a demanda. A migração intensa, que impulsionou o crescimento populacional, também sobrecarregou a infraestrutura urbana. Bairros como Vila Vargas, Jerusalém e Duque de Caxias, que remontam às origens do município, ainda enfrentam problemas como falta de energia elétrica em algumas áreas e vias de acesso precárias.
A saúde pública é outro ponto crítico. Casos como a acusação de negligência médica em uma unidade de saúde, relatada por uma família após a morte de uma criança com sintomas de dengue em 2024, expõem a fragilidade do sistema. A mortalidade infantil, embora reduzida para 11,9 óbitos por mil nascidos vivos em 2022, ainda reflete desafios no acesso a cuidados médicos de qualidade.
Histórias de Resiliência e Esperança
Apesar dos desafios, a essência de Teixeira de Freitas reside em seu povo. Moradores como Sílvio Castro Rosas, poeta e comerciante, e Elizabete, também comerciante, destacam a cidade como um lugar acolhedor, onde histórias de migrantes se entrelaçam para construir um futuro melhor. Iniciativas como o Núcleo Territorial NEOJIBA, que oferece formação musical para 200 jovens de 32 bairros, demonstram o potencial de transformação por meio da cultura e da educação.
A cidade também celebra sua história de luta. Fundada em 1985, após um plebiscito que marcou a emancipação de Alcobaça e Caravelas, Teixeira de Freitas nasceu da vontade coletiva de independência e desenvolvimento. Pioneiros como Júlio José de Oliveira e Dona Izaura Matias, ainda vivos, são testemunhas de uma trajetória marcada por esforço e superação.
Caminhos para o Futuro
Para superar o abismo social, Teixeira de Freitas precisa de políticas públicas que priorizem a inclusão. Investimentos em infraestrutura, como saneamento e iluminação, são essenciais para melhorar a qualidade de vida nos bairros periféricos. A geração de empregos formais, por meio da atração de novas indústrias e do fortalecimento do turismo de negócios, pode reduzir a dependência do comércio informal e combater a pobreza.
Na segurança, estratégias integradas, como o reforço do policiamento comunitário e programas de prevenção voltados para jovens, podem ajudar a reduzir os índices de violência. Além disso, ampliar o acesso à saúde e à educação de qualidade é fundamental para romper o ciclo de desigualdade que perpetua o abismo social.
Teixeira de Freitas é uma cidade de contrastes, onde o dinamismo econômico convive com profundas desigualdades. O abismo social, evidenciado pela violência, pobreza e precariedade de serviços, é um desafio que exige união entre poder público, iniciativa privada e comunidade. Como canta o hino da cidade, Teixeira é um “precioso abrigo” com “tesouros infindos”. Cabe agora aos teixeirenses transformar esse potencial em um futuro mais justo e próspero para todos.
Redação/PlantãoTeixeira